sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Filme B

A primeira coisa que eu pensei depois de girar a chave e entrar foi: 11 dias sem notícias. 11 dias que parecem vários meses de aflição e silêncio.

Silêncio - foi a segunda coisa que eu pensei. Nunca tinha entrado naquele apartamento e sido recebida por tanta quietude. Sempre tinha algo acontecendo, a TV ligada, uma música tocando, um violão desafinado, um falatório, uma algazarra, aquela pontinha de caos que é boa e necessária.

Mas hoje estava tudo em preto e branco. Janelas fechadas, poeira acumulada, plantas murchando e um cheiro ruim no ar, aquele cheiro estranho que as coisas têm quando esquecem delas.

A terceira coisa que eu pensei, e a que mais me preocupou, foi que aquela não tinha sido a melhor idéia do mundo. Eu não devia estar ali, não sabendo que o Gastão tomou todo tipo de cuidado para não me contatar diretamente depois que o Miro sumiu. Por outro lado, ele sabe muito bem que eu não ia ficar enfurnada em casa esperando o telefone tocar. Talvez ele não saiba que eu esqueci de devolver a chave do apartamento para o Miro. Talvez ele nem saiba direito que nós terminamos. Mas ele sabe que eu não sou de ficar andando em círculos enquanto o céu desaba lá fora.

Não se preocupem, eu tomei alguns cuidados e me certifiquei de que ninguém estava me seguindo. Eu acho.

De qualquer forma, depois de arrumar um pouco as coisas, me livrar de lixo e comida estragada e lavar a louça acumulada, essa sensação ruim passou e eu percebi que ir até lá era o mínimo que eu podia fazer, por eles e por vocês.

Só que as coisas não saíram muito como nós esperávamos. O escritório (onde antes era o quarto do Miro) e o quarto do Gastão estavam uma bagunça, com roupas e objetos espalhados, e para mim era claro que ele tinha pegado algumas roupas e saído dali às pressas. Não parecia nem de longe que aquela zona era parte desse quebra-cabeça.

Mas, já que eu estava lá, olhei todos os livros e discos que vocês mencionaram - e muitos outros. Mas como diferenciar algo relevante das anotações triviais que qualquer leitor ávido como o Gastão rabisca em página atrás de página? Como saber se um papel aqui e outro ali não são simples marcadores? Depois de algumas boas horas, eu tive que aceitar que era mais fácil eu ganhar 5 milhões no vídeo bingo do que encontrar algo útil.

A única coisa mais significativa que eu descobri foi que um dos livros do Sherlock Holmes tinha um post it meio rasgado colado numa página específica. Tirei uma foto da página, espero que ajude em alguma coisa:





Já estava quase anoitecendo quando eu dei uma última olhada na sala e na cozinha e decidi ir embora. Mas eu devia saber que estava tudo normal demais para continuar daquele jeito. Já tinha trancado a porta por fora quando eu ouvi o telefone tocar dentro do apartamento.

Entrei correndo e atendi, com o coração disparado, mais de susto do que de esperança de que fossem eles. A voz era de homem, mas a ligação estava tão ruim que mal dava para dinstinguir palavras de grunhidos.

A voz perguntou quem era.

"Com quem você quer falar?" - eu retruquei.

"Ele pode estar em perigo"

Chiados na linha.

"Quem? Quem pode estar em perigo?" - tive que gritar para que o homem me ouvisse.

"Nós o colocamos em perigo. Ele sabe sobre os fragmentos."

Não tenho certeza se a última frase foi uma afirmação ou uma pergunta. Eu fiquei muda. Estava apavorada. Antes que eu pudesse responder, a voz falou outra vez.

"Esta linha não é segura. Por favor..."

Então ele desligou.

Isso foi há algumas horas, mas ainda estou um pouco trêmula. Da noite para o dia minha vida virou um filme B de suspense.

Agora eu estou enfurnada em casa, e o telefone não tocou desde que eu cheguei.

3 comentários:

Anônimo disse...

PP
pangi fgeou

moc.hcetoibsohkra.www


"Geralmente evito tentações, a não ser que não possa resistir"

Toad - Matheus H. disse...

Mais uma vez obrigado. Conseguimos algumas coisas com essa informação. Todos estão sendo avisados.!

Anônimo disse...

Não se meta conosco
Lembro Altamente do Zebu que nos Amava(Ruminante)